Transformação Digital e IA: Impulsionando o empreendedorismo no Brasil
Por: Camila Ferreira
Nos últimos anos, o mercado de trabalho no Brasil tem passado por mudanças significativas, conforme evidenciado pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua do IBGE. Houve um crescimento menos expressivo no número de trabalhadores com registro em carteira, contrastando com o aumento geral da ocupação, o que aponta para uma transformação significativa nas formas tradicionais de emprego.
O Brasil se destaca como um terreno fértil para o empreendedorismo, abrigando um contingente expressivo de 42 milhões de empreendedores, conforme revelado por estudo do Sebrae em parceria com a Anegepe. Projeções indicam que esse número pode mais que dobrar nos próximos 3 anos, impulsionado pelo crescente interesse em iniciar novos negócios. Apesar de figurar entre os 10 países com o maior número absoluto de empresas registradas, o Brasil ocupa a 8ª posição no ranking global de empreendedorismo em proporção à população, ficando atrás de países como Equador, Guatemala e Arábia Saudita nesse quesito.
Renan Kaminski, CMO da 4blue, uma empresa especializada em gestão de empresas, explica que esse aumento tem sido observado desde 2012. No início da década, havia um MEI para cerca de 13,5 trabalhadores formais; atualmente, essa proporção diminuiu significativamente para aproximadamente um MEI para cada 2,4 trabalhadores com carteira assinada em 2020. Esse crescimento exponencial dos MEIs contrasta com o aumento mais modesto do emprego formal, que cresceu apenas 2% em uma década, enquanto o número total de brasileiros ocupados aumentou 11%.
“Na última década, especialmente, o Brasil vivenciou grandes oscilações na taxa de emprego formal, e ainda tivemos uma pandemia que impactou diretamente o mercado de trabalho. Estes fatores contribuíram para o crescimento do trabalho informal. Ao mesmo tempo, também ficou mais fácil e simples abrir uma microempresa, por isso muitos brasileiros começaram a seguir o caminho do empreendedorismo e esse número deve crescer ainda mais nos próximos anos!” – explica Renan Kaminski.
A pandemia de COVID-19 acelerou essa transição, promovendo uma reavaliação profunda das relações de trabalho. Muitos profissionais, adaptando-se ao trabalho remoto, viram na abertura de seus próprios negócios como MEIs uma oportunidade de maior autonomia e flexibilidade profissional. Esse movimento não apenas reflete uma adaptação às condições econômicas adversas, mas também uma mudança cultural significativa na concepção de trabalho e vida profissional.
Apesar do crescente interesse, cerca de 70% dos brasileiros ainda enfrentam desafios ao iniciar um negócio próprio, frequentemente devido a incertezas econômicas e à complexidade do ambiente empresarial. No entanto, iniciativas recentes, como a criação do Ministério do Empreendedorismo e reformas tributárias voltadas para simplificação do cenário fiscal e burocrático, demonstram esforços governamentais para criar um ambiente mais propício e estimulante para novos empreendimentos.
“Além de ações do poder público que estimulam o desenvolvimento do empreendedorismo no país, hoje é muito mais fácil você ir em busca de conhecimento e encontrar oportunidades. Primeiro porque a internet está democratizando o acesso à informação, mas também ficou mais simples comercializar e divulgar através de sites e aplicativos. Porém, a maioria das pessoas que começam a empreender negligenciam a importância de estudar e começar a gestão do negócio da forma correta desde o primeiro dia.” – comenta Renan.
Renan enfatiza que a revolução digital tem sido um catalisador poderoso para transformar modelos de negócios em todas as indústrias. Mais do que simplesmente adotar novas tecnologias, as empresas estão redesenhando seus processos para aumentar a eficiência operacional, promover inovação contínua e oferecer uma experiência superior ao cliente. A inteligência artificial (IA), por exemplo, desempenha um papel crucial ao automatizar tarefas repetitivas, possibilitar análises de dados em larga escala e melhorar significativamente a interação com clientes por meio de chatbots e serviços personalizados.
Apesar das oportunidades, o cenário empresarial brasileiro ainda é desafiador. Dados revelam que quase metade das empresas fecha as portas nos primeiros três anos de operação, frequentemente devido a problemas de gestão inadequada e dificuldades econômicas estruturais, como altos impostos e baixa demanda.
À medida que a IA se torna cada vez mais onipresente, é essencial abordar questões éticas e práticas, como privacidade de dados e viés algorítmico, para garantir uma integração responsável dessa tecnologia. Empresas que adotam estratégias inteligentes para incorporar a IA em seus processos estão posicionadas não apenas para otimizar operações, mas também para liderar a inovação em seus setores.
“Cada vez mais está sendo possível otimizar a operação da empresa utilizando tecnologias novas que surgem todos os dias, portanto também é preciso ficar de olho para não infringir algumas leis com a Lei Geral de Proteção de Dados. com uma grande oferta de serviços que estão disponíveis, pode parecer que abrir uma empresa de sucesso é muito simples, mas mesmo com todas as possibilidades, o empreendedor nunca pode deixar de lado a boa gestão empresarial.” – comenta Renan Kaminski.
O empreendedorismo no Brasil está em um ponto de inflexão, impulsionado por transformações digitais e pela crescente adoção de IA. Com um planejamento estratégico sólido, adaptação ágil às mudanças de mercado e suporte adequado de consultorias e tecnologias emergentes, os empresários brasileiros têm a oportunidade não apenas de sobreviver, mas de prosperar em um ambiente de negócios cada vez mais complexo e competitivo.
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